José Carlos Milano

Por José Carlos Milano (Cacá)

Diretor de Tecnologia e IBMista há mais de 40 anos

Bati no ícone do app do meu banco; me autentiquei pela digital; selecionei “pagar conta”; apontei o celular para a conta e o código de barras foi lido automaticamente; forneci a minha senha e voilá: a conta estava paga em menos de 40 segundos - isso sem que eu tivesse me levantado da cadeira.

Para vocês que sempre tiveram essa experiência magnífica – e fácil -, preciso dizer que nem sempre os dias foram assim! Houve uma época em que quase tudo que se referia a banco e transações financeiras tinha que ser resolvido na agência em que se tinha conta. Para alguns, um passatempo, para outros, um martírio e um enorme desperdício de tempo.

É inegável que a combinação da internet com a popularização dos smartphones foi explosiva. Mudou o mundo muito rapidamente! Mas não tenham dúvida, a mudança começou um pouco antes com as tecnologias de comunicação que permitiram o teleprocessamento. Esse termo, hoje bem pouco mencionado, pode ser entendido como a combinação das facilidades de troca de informação e dados pelos meios de comunicação (inicialmente por compartilhamento com linhas telefônicas, hoje por fibras óticas, satélites, cabos, wi-fi) e o poder de processamento dos grandes computadores. Foi quando nós, seres humanos normais, começamos a ter acesso direto ao mundo e aos benefícios da computação.

Há exatos 25 anos, eu tive meu primeiro PC - o primeiro PC a gente nunca esquece.... Eu viajava pelo mundo e a maneira mais prática de me comunicar com a minha esposa era por meio de um programa que eu havia feito e que permitia conectar meu PC (muito longe ainda de um laptop...) com a emulação de um terminal 3270 - o tal da tela verde - que eu conseguia usar nos escritórios e laboratórios da IBM onde eu estivesse. O objetivo do meu programa era fazer com que o servidor da IBM estabelecesse comunicação com o meu PC de casa e eu pudesse então trocar mensagens a tempo real com minha esposa. Acreditem, o treco funcionava...

Pois é meus caros, é isso mesmo que vocês estão pensando... Por pouco, não fui eu quem inventou o e-mail ou até mesmo o WhatsApp. Mas voltando à “vaca fria”... Nessa época, o poderoso modem da minha casa conectava meu PC à rede de telefonia a inimagináveis 1.200 bps. Vale dizer que enquanto a conexão persistisse, a linha telefônica mantinha-se ocupada. Hoje, nas conexões a cabo ou fibra, chega-se facilmente a 120MBs, ou seja, 100.000 vezes mais veloz. E a gente quer mais...

Importante lembrar que nessa época, Steve Jobs ainda era uma criança e nada existia além dos telefones fixos. Estes, por sua vez, eram praticamente um bem de família. Constavam nas declarações do imposto de renda e eram deixados como herança. Para conseguir acesso a uma linha telefônica, era normal uma espera de pelo menos 24 meses. Ah, não era de graça não! Custava um bom dinheiro. Mas, apesar das dificuldades e dos custos elevados, as corporações - no Brasil, particularmente os bancos -, criaram demanda suficiente e fizeram com que as empresas de Telecomunicações investissem em infraestrutura, permitindo uma mudança radical nos ambientes e sistemas computacionais.

Ainda não era a internet como conhecemos hoje. Isso porque as redes de comunicação eram privadas e utilizavam protocolos proprietários. Na época, a IBM tinha a maior rede privada no mundo, tempos depois adquirida pela AT&T.

Para os bancos, sempre atentos e investidores audazes no ramo da tecnologia de informação, o teleprocessamento possibilitou um salto fenomenal no relacionamento e na prestação de serviços aos seus clientes. As pessoas deixaram de ser clientes de agências para se tornarem clientes dos bancos.

Explico: o cadastro e as informações do cliente pertenciam a uma agência específica, conhecida como “agência origem”. Se o cliente quisesse descontar um cheque (não se utilizava ainda o cartão de débito) em uma agência que não era aquela em que ele havia aberto sua conta, o gerente tinha que ligar via o tal do telefone fixo para que o gerente da “agência origem” verificasse se havia saldo suficiente na conta e autorizasse o pagamento. Em tempo, meu filho caçula nunca preencheu e assinou um cheque na vida... E olha que ele é bem grandinho já.

As telecomunicações foram fundamentais como infraestrutura de suporte ao teleprocessamento. Este, por sua vez, viabilizou a implantação de diversas facilidades aos clientes das instituições financeiras, desde as ATMs - que permitem sacar dinheiro e realizar outras tantas transações financeiras de qualquer lugar do mundo - aos apps, que nós utilizamos a todo instante a partir dos nossos smartphones.

E assim, o tempo passou... E quando alguém se espanta e quer saber como eu fiquei tantos anos nesse emprego (já se passaram mais de 40 anos), eu conto uma história da minha avó. Quando ela me perguntava: “mas o que faz essa tal IBM?”. Eu respondia: “Nonna, a gente tá fazendo o futuro”. Não sei o quanto ela entendia ou achava que eu era maluco, fato é que ela abria um largo sorriso naquele rostinho enrugado e dava um beijo bem gostoso na minha bochecha. Valeu a pena!