Pimentel

Por Henrique Oswaldo Pimentel (Pimentel)

Ex-IBMista e um dos responsáveis pela criação da fábrica de Sumaré, atual IBM Hortolândia

Em 1939, surgia a primeira fábrica da IBM fora dos Estados Unidos. Em Benfica, Rio de Janeiro, era produzido não só as máquinas comerciais que processavam os cartões perfurados, mas também os próprios cartões, como uma gráfica super especializada. E assim foi até 1967, quando terminava o ciclo das máquinas de cartão perfurado, chamadas UR (Unit Record), e explodia a era dos computadores eletrônicos, iniciada em 1960, com o IBM 1401, e com a chegada do IBM System/360, em 1965.

O “barra 360” substituía o 1401 que, mesmo em fim de vida, ainda era um sucesso de vendas. A Fábrica IBM de Benfica ainda produzia as máquinas UR e cartões perfurados, mas já iniciava uma linha de montagem de computadores 1401 e DP (Data Processing).

Paulo Coelho Leite, então Gerente Geral Assistente, vice-presidente da IBM Brasil, era responsável por Fabricação e estava empenhado em evoluir essa linha DP da Fábrica, que ele chamava de "technology". Em termos simples: sair definitivamente da fabricação de máquinas UR para computadores. Sendo assim, o espaço em Benfica não comportaria essa nova produção. No final de 1967, fui convidado para integrar um projeto confidencial que foi batizado de "novo espaço de fabricação". A confidencialidade do projeto justificava-se pelo envolvimento inevitável de todo o pessoal de Fabricação, dos gerentes, engenheiros, times administrativos e, obviamente, todo o pessoal que trabalhava na linha de montagem. Apesar de todo sigilo, o pessoal cedo desconfiou que o meu projeto era mudar a fábrica para outro lugar.

Se construir uma nova fábrica IBM era novidade aqui no Brasil, nos Estados Unidos havia uma vasta experiência e uma montanha de especificações, normas e roteiros. Desde o básico, como a escolha de um local para a construção que possuísse itens “simples” como habitação de qualidade para os funcionários, escolas para os filhos, universidades, disponibilidade de mão de obra especializada, até as questões funcionais, como acesso às ferrovias e aeroportos, facilidades de exportação e importação, fornecedores... Além de um espaço suficientemente grande para a construção do prédio inicial e que permitisse expansão pelo menos três vezes mais.

Saímos em campo procurando esse local ideal: em princípio, no Rio de Janeiro mesmo, e seguimos pela rodovia Rio-São Paulo até a periferia de SP, capital e interior. Outras regiões foram exploradas no Norte, Nordeste e no Rio Grande do Sul.

Desse trabalho de quase um ano, resultou um dossiê de umas 400 páginas, recomendando a região de Campinas, em um terreno específico no município de Sumaré. Revisão feita e tudo aprovado! Partimos para a compra do espaço, a contratação dos arquitetos para o projeto dos prédios e ocupação do terreno. Contratados os fornecedores, foi dado o início da construção da Fabrica de Sumaré, em julho de 1970.

Mas antes disso... Em dezembro de 1969, por solicitação de Finanças-Matriz, fui convidado a recomendar a criação de um grupo para administrar os sérios problemas de espaço que a IBM Brasil como um todo enfrentava, devido ao crescimento acelerado dos negócios. Assim, sugeri a formação de um Departamento de Real Estate, que se chamou Imóveis & Construções, com engenheiros, arquitetos e administradores.

O importante de citar essa criação de Real Estate é que com a minha recomendação aprovada, fui convocado para ser o primeiro gerente e implantador da nova organização. E o “meu” projeto da nova fábrica, como ficaria?

Problema resolvido: meu gerente só concordou com minha nomeação com a condição do Projeto da Fábrica de Sumaré continuar sob minha responsabilidade.

E a medida que a construção e a complexidade dos complementos avançavam, recomendei a contratação de um profissional IBM do exterior, com experiência em obras de fábricas, para dar suporte especificamente ao projeto de Sumaré, o Arthur Smith. Ele foi o meu sucessor na gerência de Real Estate, quando saí em outubro de 1972, com a Fábrica de Sumaré praticamente pronta e em funcionamento.

É importante citar que em Benfica, tínhamos a linha DP, mas também a linha OP (Office Products), que fabricava máquinas de escrever – essa produção também seria transferida para a nova fábrica. OP tinha uma missão agressiva (se não me falha a memória, algo como 50.000 máquinas por ano). Com este plano de produção aprovado, o time não podia esperar a nova fábrica ficar pronta.

Assim, foi antecipada a mudança da produção OP para Campinas, para uma área provisória, no bairro Taquaral. Lá não fabricavam somente as máquinas de escrever, mas também perfuradoras e verificadores, vindas do Rio, da Fábrica de Benfica. O local da Fábrica do Taquaral era uma ex-fábrica de camisas. Quando a espaço de Sumaré teve condições parciais de "habite-se", a linha OP se mudou para lá.

O edifício da fábrica era, a grosso modo, composto por três blocos interligados. Olhando de frente, o da direita era estreito e comprido, destinado à linha de montagem tradicional de Office Products. O bloco central era uma ampla área para a produção de Data Processing e a Administração. O bloco à esquerda era um grande almoxarifado. Dada a urgência de espaço para OP, o bloco da direita foi acelerado para possibilitar a antecipação da ocupação. Se por um lado permitiu a continuidade da fabricação das máquinas de escrever, por outro tiveram inconvenientes de operar num edifício ainda em construção.

DP mudou-se meses depois e, na verdade, sua área continuou a ser modificada, com a construção da sala limpa para a produção de fitas magnéticas, por exemplo. A data de término total, digamos assim, foi 15 de junho de 1972.

A imagem do Telex do A. R. Jones, designado para uma avaliação do projeto, cita esses detalhes:

Pimentel Telex